no cortiço da esquina moram três senhoras:
a primeira chamaram Solitude,
e assim ainda a chamam
por ser tão só e tão carente,
abastada apenas de apatia.
A segunda se chama Aurora;
em verdade, nunca soube muito sobre esta.
No dia em que a trouxeram, anos atrás,
pediram para dela cuidar,
mas não contaram
que eu nunca mais a veria.
(ela se escondeu na primeira vista,
foi às sombras e nunca retornou)
A terceira é minha predileta,
promíscua e hipocondríaca,
chamei-a Melancolia,
– não paga sua estadia
mas também não a cobro
por já sofrer demais
diante do espelho ajoelhado
observo cada uma delas
confesso meus pecados
reconheço a pequenez das coisas
me lembro da vista da sacada
e salto ao reparar que sou elas